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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre palavras e papéis vazios

Foto extraída de: http://sociedadedospoetasporvir.blogspot.com.br/2012/02/escrever.html


As palavras... sim, as palavras conduzem àquele que, de início, não sabe o que escrever, mas que deseja lançar em um pedaço de papel o que lhe é mais próprio.
Quão difícil é, porém, deixar que as palavras venham e, nessa vinda, permitir que elas mostrem um pouco de nós. Ocorrem embaraços, desencontros, choques... Até que uma resolve surpreender e então é lançada, às vezes de forma despretensiosa, naquele papel em branco, que a gente quer preencher.
O começo é difícil. Ver um papel, sem palavras, sem rabiscos, pode causar angústia. O que escrever? Por onde começar? Diriam alguns, que se julgam sábios: “Pelo começo!”. E o começo? Como começo? E é essa a dúvida primeira, a de como começar, que pra uns significa a completa paralisia e pra outros, a vontade de responder.
Um texto, assim, nem sempre é fácil de ser escrito. Ao contrário, ele traz em suas entrelinhas, sentimentos contraditórios que acometem o autor no momento do escrever. Ao mesmo tempo em que o papel em branco pode trazer angústia, ele faz emergir a responsabilidade, seja a de agradar a alguém com palavras que ainda estão por vir, seja a de trazer a nós um alívio, quando fazemos do papel um confidente e falamos a ele o que sentimos. Ambas se relacionam. Quando agrado a alguém sinto alívio. Quando busco um alívio, agrado a mim mesma, por, minimamente, ter lançado no papel aquilo que queria dizer.
O papel, então, pode ser um grande amigo e o escrever uma tarefa grandiosa. Mas existem aqueles que, ao transformarem o escrever em um instrumento competitivo, o tornam coisa obrigatória, coisa a ser feita. Quem é que gosta de fazer algo obrigado? O autor gosta de se sentir livre... De poder levar as suas palavras a quem quiser, mesmo que seja somente a ele mesmo. De poder escolher, considerando o tudo que o circunda...
Mas voltando ao começo, que é tão difícil começar... Quão grande é a responsabilidade daquela palavra que inicia o texto. Ela mostra que o papel não está mais vazio, que existe algo ali e que o autor já se colocou, posicionou-se, saiu da zona de conforto. Começar a escrever, é, então, começar a agir, lançar-se ao julgamento.
Após a primeira palavra, seguem-se outras, cada uma buscando “completar” às anteriores, dar um sentido, que muitas vezes a gente pensa que achou e que é fechado, mas que na verdade é um devir, representado pelas constantes edições que o autor faz naquilo que outrora escreveu.
Chega-se, então, a outro momento, o do término. Por vezes, tão ou mais difícil que o começo. Às vezes, tem-se um limite concreto, colocado pelo outro, que se traduz pela quantidade de linhas ou laudas. Em outras vezes, é o autor que determina o limite, considerando, muitas vezes, não a quantidade, um dado objetivo, mas aquilo que quer dizer. Se existe a pergunta “como começar?”, existe uma outra, “como terminar?”. E, diante disso, lanço uma questão: é possível, efetivamente “terminar”? O que é “terminar”? Esta, por vezes, tende a ser uma pergunta difícil de ser respondida. Mas vale considerar que nem sempre o término pode ser o sinônimo de fim, de algo acabado. O término pode abrir caminho para um novo começo, ou um recomeço.
Assim, as últimas linhas do texto, as últimas palavras, pretendem, por ora, finalizar o que foi escrito. O papel, agora rabiscado, espera pela palavra final, o último ato. Às vezes, essa última palavra vem meio que naturalmente e o autor a coloca, sem receio, seguida por um ponto final. Noutras vezes, o autor demora a achar esse verbete final e põe-se a perguntar, dentre inúmeras possibilidades, qual a melhor forma para terminar seu texto.
Pode-se ainda ter um texto inacabado, interrompido bruscamente, abandonado. Nesse caso, o autor talvez estivesse indeciso, entre o não querer terminar, o não estar pronto para terminar ou o não poder terminar. Ainda assim, haverá uma última palavra, que talvez indique tão somente uma interrupção.
As palavras, então, contemplarão aquele que as lançou sobre um simples papel em branco. Dirão algo sobre esse autor, falarão... Podem ser lidas, re-lidas, modificadas, porém, uma vez lançadas, deixarão uma marca, ocuparão um lugar. Serão o autor na folha de papel outrora vazia.
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